Quando o surdo ouviu Songs for the deaf do Queens of the stone Age


Em meados de 2003 eu participava de uma banda de porão com uns amigos. Nós tocávamos sons de bandas como AC DC, Beatles, Deep Purple, Kings of Leon, Led Zeppelin e até Ramones. Era um porão baixo com paredes vermelhas, uma placa de ‘pare’ atrás da bateria, um quadro grande do álbum Chaos A.D. do Sepultura ficava à direita da bateria próximo ao meu amplificador de guitarra e mais perto da portinha de madeira ficava um quadro do filme Laranja Mecânica de Stanley Kubrick.
Sinceramente não era muito agradável pois era um lugar baixo, abafado e quando juntava um monte de macho pra fazer barulho ficava pior (às vezes iam umas meninas lá).
Apesar disso foi uma época muito boa, estava conhecendo novas pessoas e novos sons. Eu era limitado ao nu metal de Korn, Limp Bizkit, o grunge do Pearl Jam e Soundgarden, e os clássicos que nós tocávamos no porão, não que isso fosse algo ruim, mas necessitava conhecer algo novo. Foi quando num dia desses de ensaio em que terminamos de tocar ficamos conversando, bebendo e ouvindo um som, (afinal éramos amigos antes de qualquer coisa) e mesmo com os ouvidos um pouco afetados pelo barulho extremo dos ensaios consegui ouvir algo diferente, um riff bem elaborado, a voz meio medonha, mas de fácil compreensão, e a bateria com uma pegada bem criativa, parecia até que tinha escutado em algum lugar.
Perguntei pra eles que banda era aquela e o baixista com um porte meio mala soltou a fumaça de cigarro de lado parecendo um tiozão de boteco de vila disse: ‘É o Queens of the Stone Age com o Dave Grohl na batera’.
Bem que eu conhecia aquela pegada de bateria e já tinha ouvido falar do ‘Qotsa’. Fui pesquisar mais sobre a banda pela ‘interwebs’ da vida e acabei comprando o cd intitulado ‘Songs for the Deaf’ (naquela época eu comprava os cd’s e não baixava, ainda) e tinha essa música.
O legal desse álbum é que quando dá o play não começa uma música direto, e sim um som de uma pessoa entrando no carro e sintonizando a rádio (quem faz as locuções do rádio são as participações especiais, coisa típica deles), e sintoniza em uma em que o locutor apresenta a banda, inicia a bateria com a guitarra no estilo bem stoner e a voz gritante e estridente de Nick Olivieri baixista (aquele mesmo que ficou pelado no Rock in Rio em 2001).
Polêmicas à parte, essa música Millionaire mostra qual era a intenção da banda para o álbum todo, chocar? Talvez, pois é uma música com pegada, um som cru e levada repetitiva e stoner que não perdia qualidade.
A seguinte era a ‘No one knows’ que já era um som mais elaborado com um riff viciante e marcação de bateria quase dançante. Dave Grohl capricha no andamento da música, Josh Homme que é o vocal e também sola com a guitarra, não deixa a desejar, fazendo essa música ser considerada na época a ‘salvadora do rock’.

Os destaques do álbum ficam por conta de ‘Song for the deaf’ com uma pegada geral à la Jimi Hendrix e um final matador com a bateria de Dave Grohl massacrando tudo e mostrando que não era uma simples participação e sim algo como uma demonstração de parte de composição desse som incrível e detalhe que quem canta essa é Mark Lanegan ex Screaming Trees. Dando mais ferocidade e um tom mais sombrio, outra que ele canta é ‘Hangin Tree’ que vale a pena dar uma atenção. Outro destaque é para a ‘Go with the flow’ com uma pegada ‘Stoner’ mas com a característica nota repetitiva de piano ao fundo, coisa já manjada da banda mas que não tira a qualidade. A faixa ‘Mosquito song’ é a mais leve, e a ‘Everybody’s gonna be happy’ é uma versão cover da banda The Kinks que ganhou um peso bem legal. É um álbum coeso de fácil audição e que é de fato excelente para ouvir do começo ao fim. As participações mesmo que sejam temporárias, fazem jus aos seus nomes dando um significado maior do que apenas ‘participar’ e mostram que ‘Songs for the deaf’ é um álbum que vale a pena conferir e, na minha opinião, ainda está no meu top 5 apesar de ter sido lançado há tanto tempo. São sempre os bons amigos que nos apresentam músicas boas como o Queens of the stone age.

Sim amigos, ainda falarei mais sobre o Queens of the stone age, mas tenho outras bandas em mente, e se quiserem que eu fale de alguma banda, mesmo que mais antiga podem indicar, será um prazer (ou não? ... rs) 

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